Abertura das férias 2014 em Portel na praia da Tucano (Foto: Ormnews). |
Ela começava então na Secretaria, acompanhada do professor Carlos Araújo,
sem experiência no turismo, mas com muita disposição. A sensação mesmo era que
estavam começando do zero. Eu recomendei que o primeiro passo era criar um calendário de eventos para o ano todo e, dentro
desse calendário, trabalhar as atrações de cada evento. O objetivo seria
primeiro atrair os portelenses que estavam afastados do município, e depois os
brevenses e pessoas de outros municípios.
Passaram-se depois oito longos anos dos dois mandatos do prefeito Pedro
Barbosa, e essas ideias nunca saíram da gaveta (assim como não saíram da gaveta
muitas outras ideias de todas as demais secretarias). A Secretaria de Turismo
não tinha dinheiro, não tinha projetos e, se não me engano, logo foi fundida
com a Secretaria de Esportes na nova Secretaria de Cultura, Esportes, Lazer e
Turismo (SECELT).
Investir em turismo Pará é uma luta inglória. Prefeito investir em turismo
no município é mais difícil ainda. Mais adiante veremos por quê. Mas só pra termos um exemplo, vamos relembrar um caso que eu ouvi em Soure.
Certa vez em Soure, na década de 1990, durante entrevista ao vivo, um
radialista perguntou ao prefeito: “Sr. prefeito, o que é que o senhor tem a
dizer ao turista que vem visitar e encontra nossa cidade feia, abandonada,
suja?”
Ao que o prefeito respondeu: “Em primeiro lugar eu não estou convidando
ninguém a vir aqui. Quem vem é porque quer. Em segundo lugar,...”.
“Muito obrigado, prefeito, por aqui
encerramos nossa entrevista”, concluiu o locutor.
É por esse nível de cultura que encontramos a maioria dos prefeitos
paraenses.
Tem aquela também da Nancy, prefeita de Portel entre 1993 e 1996. Quando
uma equipe da TV Liberal foi cobrir as férias de julho e a repórter pediu a ela
que falasse os motivos para o visitante vir conhecer a cidade. Ao responder, a
prefeita foi colocando tanta dificuldade, mas tanta dificuldade, que acabou
desconvidando o turista. E olha que a prefeita tinha um gosto por festa.
COMO ERA NA ÉPOCA DO PREFEITO ELQUIAS
Foi o prefeito Elquias que começou a tradição das férias de julho, e também
foi ele quem deu fim.
O concurso da Garota Verão e as competições esportivas começaramam naquela
época na praia do Areião no início dos anos 1980. Era uma forma de receber os
estudantes portelenses que vinham de Belém, uma forma de reencontro muito
animado entre os jovens que não se viam durante o ano.
Em seguida o prefeito transferiu a programação para a praia do Arucará, ou
praia da Vila, como se chamava na época, juntando assim o evento junto à sua
maior obra, a construção da beirada, com Associação e ginásio, que passaram a
se integrar na programação. Os jogos aconteciam no ginásio e o Baile da Musa na
Associação (depois o Baile da Musa foi para a sede do Camel). Esse foi o auge
das férias de julho em Portel.
No entanto, durante o segundo e o terceiro mandato do prefeito Elquias
Monteiro, de 1997 a 2004, a programação das férias de julho foi acabando. Ficou
apenas o desfile da Garota Verão, realizado sobre uma humilde passarela de
madeira, ao final do qual o prefeito entregava uma bicicleta à vencedora. Até
mesmo o tradicional Baile da Musa foi extinto.
Esse foi um tempo de estagnação econômica, antes mesmo do fechamento da
Amacol. Havia emprego, mas havia desesperança. Não foi à toa que população
alcunhou aquele período de “tempos sombrios”, marcados pelo suicídio misterioso
de jovens.
Essa era a situação quando a Aline assumiu a Secretaria de Turismo em
Portel. Mas o que era ruim estava para ficar ainda pior, bem pior.
Durante os dois mandatos do prefeito Pedro Barbosa, seguiu-se uma sucessão
de escândalos, denúncias e reportagens de repercussão nacional, em todas as
redes de televisão e jornais da capital, que foram parar até no Fantástico da
Globo, e mancharam de vez o nome da cidade.
Uma hora era a tragédia da praga dos morcegos, outra hora eram os
escândalos de corrupção, pedofilia, violência e miséria. Parecia que tudo o que
tinha de ruim no Brasil vinha de Portel. Era como se a cidade tivesse passado a
incorporar todas as mazelas nacionais. A imagem do município estava no fundo do
poço, e a autoestima da população estava junta.
Trabalhar o turismo em um município desses parecia uma batalha perdida.
ASSUME O PREFEITO PAULO FERREIRA
Quando o prefeito Paulo Ferreira assumiu em 2013, a Aline Carvalho passou
a ter uma função de mais importância no novo governo. Assim, coube a ela tirar
da gaveta os projetos de turismo para o município. Desta vez, Portel não só
voltou a ter uma programação para as férias de julho, como essa programação
pela primeira vez foi divulgada antecipadamente. E toda ela foi, de uma forma
ou de outra, cumprida.
Dentre as novidades, a abertura das férias foi transferida para a praia da
Tucano. Além das tradicionais competições esportivas, foram incluídos show de
música gospel e passeios ecoturísticos. E, para fechar as férias, grande show de uma banda de forró.
Assim, o tradicional Baile da Musa foi realizado no
estádio Felizardo Diniz, mas agora apenas como um desfile para a escolha da
musa. A grande atração da noite foi a banda de forró “Saia Rodada”. O sucesso
da banda foi tanto que ela voltou a fazer show no dia seguinte, no palco da
praia.
De início eu mesmo critiquei essas programações, com muita ênfase em
atrações em bandas de fora, conhecidas nacionalmente, política essa maldosamente
apelidada de “pão e circo” pela oposição. O custo estimado de R$ 100 mil para
trazer uma banda dessas muitas vezes não vale o investimento feito, se não
houver grande afluxo de visitantes no município.
As férias em Portel tem que ser pensadas como uma forma de trazer divisas
para o município e de, assim, gerar empregos. Mas, sobretudo, ela tem um forte
efeito psicológico sobre uma população carente de alternativas de diversão o
ano todo. De toda forma, os gastos com os eventos não podem ser superiores à
renda gerada pelos mesmos. Ainda que isso pareça difícil de ser quantificado.
GERSON PEREIRA À FRENTE DA SECELT
Quando o Gerson Pereira assumiu a SECELT, muitos disseram que a nomeação
tinha motivação política, pois ele tinha concorrido nas eleições passadas pela
chapa da oposição. Seria uma forma assim de cooptar pessoas da oposição. Mas
ele logo provou que era a pessoa certa para o cargo.
Um dos maiores méritos do Gerson foi pegar um evento criado pelo governo do
estado, e incorporar esse evento ao calendário municipal. Este ano apenas dois
municípios no Pará tiveram Aquafest. Portel foi um desses dois (veja aqui um vídeo do Youtube sobre o II Aquafest).
Hoje a programação de turismo em Portel não se limita às férias de julho. Além
das férias de julho tem o Aquafest em abril e o Festival de Música e Natal Sustentável
em dezembro. Sem falar nas festividades religiosas.
Agora Portel tem uma programação para o ano todo. Acabou o Aquafest mas a
equipe já tem que pensar as férias de julho.
A OPOSIÇÃO E SEUS ARGUMENTOS CONTRA O TURISMO
É muito fácil dizer que o público de turistas do Aquafest ficou aquém do
esperado. Mas a organização de um evento desses exige uma capacidade de
planejamento que é valiosíssimo para a prefeitura. Não só o planejamento, mas a
realização envolve profissionais da área de sonorização, iluminação, profissionais
de imprensa, montagem da estrutura de arquibancada e palcos. Isso pra não falar
em carregadores e pessoal de apoio. Esses são profissionais técnicos essenciais
para criar em Portel uma economia baseada na realização de eventos.
Contudo, parte população de Portel ainda falha em ver os benefícios
trazidos para o município pela realização de eventos. Ainda se fala de forma
pejorativa “fazer festa”, em “desperdício de dinheiro” enquanto a prefeitura poderia
estar “contratando” para diminuir o desemprego... Disseminando a máxima: é
botando apadrinhado político “na folha” da Prefeitura que se acaba o desemprego
em Portel...
Essas são falas espalhadas, sobretudo, pela oposição como forma de criar
uma insatisfação do público contra os eventos. Mas esses são argumentos
falaciosos, enganosos, pois escondem do público os benefícios para o município.
Nas férias de julho, se apenas 400 pessoas forem a Portel, cada uma com R$
500,00 para gastar, no final do mês, são R$ 800.000,00 deixados pelos
visitantes no município.
Não há outra atividade que traga para o município tanto dinheiro em tão
curto período. Atrair indústria para criar empregos no município exige muitos
recursos e leva tempo até a instalação. Não há outra atividade que garanta
renda para tantas famílias em tão pouco tempo. Negligenciar esse potencial
turístico de Portel é não só burrice, mas até um ato criminoso.
Agora, a grande razão por que os políticos não gostam de investir em
turismo no Marajó, é porque o dinheiro que turista traz não cai diretamente na
mão do político. Ele fica na mão do carregador, do motorista de taxi, do dono do
hotel ou da pousada, do dono do restaurante, do carrinho de lanche, e assim por
diante. Político não gosta quando o dinheiro não cai direto na mão dele.
Claro que poderíamos discutir como formatar as férias de julho, e também os
demais eventos do ano, mas falar em acabar com eventos que trazem dinheiro para
o município é de um absurdo vergonhoso.
E é bom a população de Portel atentar para isso.