sábado, 30 de maio de 2015

TURISMO EM PORTEL: ONTEM E HOJE


Abertura das férias 2014 em Portel na praia da Tucano (Foto: Ormnews).
Quando assumiu a Secretaria de Turismo, Aline Carvalho me chamou para pedir  algumas ideias para o turismo em Portel, sabendo que eu já tinha experiência nessa área em Belém. Era o ano de 2005, início do primeiro mandato do prefeito Pedro Barbosa.

Ela começava então na Secretaria, acompanhada do professor Carlos Araújo, sem experiência no turismo, mas com muita disposição. A sensação mesmo era que estavam começando do zero. Eu recomendei que o primeiro passo era criar um calendário de eventos para o ano todo e, dentro desse calendário, trabalhar as atrações de cada evento. O objetivo seria primeiro atrair os portelenses que estavam afastados do município, e depois os brevenses e pessoas de outros municípios.

Passaram-se depois oito longos anos dos dois mandatos do prefeito Pedro Barbosa, e essas ideias nunca saíram da gaveta (assim como não saíram da gaveta muitas outras ideias de todas as demais secretarias). A Secretaria de Turismo não tinha dinheiro, não tinha projetos e, se não me engano, logo foi fundida com a Secretaria de Esportes na nova Secretaria de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo (SECELT).

Investir em turismo Pará é uma luta inglória. Prefeito investir em turismo no município é mais difícil ainda. Mais adiante veremos por quê. Mas só pra termos um exemplo, vamos relembrar um caso que eu ouvi em Soure.

Certa vez em Soure, na década de 1990, durante entrevista ao vivo, um radialista perguntou ao prefeito: “Sr. prefeito, o que é que o senhor tem a dizer ao turista que vem visitar e encontra nossa cidade feia, abandonada, suja?”

Ao que o prefeito respondeu: “Em primeiro lugar eu não estou convidando ninguém a vir aqui. Quem vem é porque quer. Em segundo lugar,...”.

 “Muito obrigado, prefeito, por aqui encerramos nossa entrevista”, concluiu o locutor.

É por esse nível de cultura que encontramos a maioria dos prefeitos paraenses.

Tem aquela também da Nancy, prefeita de Portel entre 1993 e 1996. Quando uma equipe da TV Liberal foi cobrir as férias de julho e a repórter pediu a ela que falasse os motivos para o visitante vir conhecer a cidade. Ao responder, a prefeita foi colocando tanta dificuldade, mas tanta dificuldade, que acabou desconvidando o turista. E olha que a prefeita tinha um gosto por festa.

COMO ERA NA ÉPOCA DO PREFEITO ELQUIAS

Foi o prefeito Elquias que começou a tradição das férias de julho, e também foi ele quem deu fim.

O concurso da Garota Verão e as competições esportivas começaramam naquela época na praia do Areião no início dos anos 1980. Era uma forma de receber os estudantes portelenses que vinham de Belém, uma forma de reencontro muito animado entre os jovens que não se viam durante o ano.

Em seguida o prefeito transferiu a programação para a praia do Arucará, ou praia da Vila, como se chamava na época, juntando assim o evento junto à sua maior obra, a construção da beirada, com Associação e ginásio, que passaram a se integrar na programação. Os jogos aconteciam no ginásio e o Baile da Musa na Associação (depois o Baile da Musa foi para a sede do Camel). Esse foi o auge das férias de julho em Portel.
Desfile Garota Verão nas férias, anos 1980.

No entanto, durante o segundo e o terceiro mandato do prefeito Elquias Monteiro, de 1997 a 2004, a programação das férias de julho foi acabando. Ficou apenas o desfile da Garota Verão, realizado sobre uma humilde passarela de madeira, ao final do qual o prefeito entregava uma bicicleta à vencedora. Até mesmo o tradicional Baile da Musa foi extinto.

Esse foi um tempo de estagnação econômica, antes mesmo do fechamento da Amacol. Havia emprego, mas havia desesperança. Não foi à toa que população alcunhou aquele período de “tempos sombrios”, marcados pelo suicídio misterioso de jovens.

Essa era a situação quando a Aline assumiu a Secretaria de Turismo em Portel. Mas o que era ruim estava para ficar ainda pior, bem pior.

Durante os dois mandatos do prefeito Pedro Barbosa, seguiu-se uma sucessão de escândalos, denúncias e reportagens de repercussão nacional, em todas as redes de televisão e jornais da capital, que foram parar até no Fantástico da Globo, e mancharam de vez o nome da cidade.

Uma hora era a tragédia da praga dos morcegos, outra hora eram os escândalos de corrupção, pedofilia, violência e miséria. Parecia que tudo o que tinha de ruim no Brasil vinha de Portel. Era como se a cidade tivesse passado a incorporar todas as mazelas nacionais. A imagem do município estava no fundo do poço, e a autoestima da população estava junta.

Trabalhar o turismo em um município desses parecia uma batalha perdida.

ASSUME O PREFEITO PAULO FERREIRA

Quando o prefeito Paulo Ferreira assumiu em 2013, a Aline Carvalho passou a ter uma função de mais importância no novo governo. Assim, coube a ela tirar da gaveta os projetos de turismo para o município. Desta vez, Portel não só voltou a ter uma programação para as férias de julho, como essa programação pela primeira vez foi divulgada antecipadamente. E toda ela foi, de uma forma ou de outra, cumprida.

Dentre as novidades, a abertura das férias foi transferida para a praia da Tucano. Além das tradicionais competições esportivas, foram incluídos show de música gospel e passeios ecoturísticos. E, para fechar as férias, grande show de uma banda de forró.

Assim, o tradicional Baile da Musa foi realizado no estádio Felizardo Diniz, mas agora apenas como um desfile para a escolha da musa. A grande atração da noite foi a banda de forró “Saia Rodada”. O sucesso da banda foi tanto que ela voltou a fazer show no dia seguinte, no palco da praia.

De início eu mesmo critiquei essas programações, com muita ênfase em atrações em bandas de fora, conhecidas nacionalmente, política essa maldosamente apelidada de “pão e circo” pela oposição. O custo estimado de R$ 100 mil para trazer uma banda dessas muitas vezes não vale o investimento feito, se não houver grande afluxo de visitantes no município.

As férias em Portel tem que ser pensadas como uma forma de trazer divisas para o município e de, assim, gerar empregos. Mas, sobretudo, ela tem um forte efeito psicológico sobre uma população carente de alternativas de diversão o ano todo. De toda forma, os gastos com os eventos não podem ser superiores à renda gerada pelos mesmos. Ainda que isso pareça difícil de ser quantificado.

GERSON PEREIRA À FRENTE DA SECELT

Quando o Gerson Pereira assumiu a SECELT, muitos disseram que a nomeação tinha motivação política, pois ele tinha concorrido nas eleições passadas pela chapa da oposição. Seria uma forma assim de cooptar pessoas da oposição. Mas ele logo provou que era a pessoa certa para o cargo.
Exibição de flyboard durante
 II Aquafest 2015 (Foto: Studio ZOOM).

Um dos maiores méritos do Gerson foi pegar um evento criado pelo governo do estado, e incorporar esse evento ao calendário municipal. Este ano apenas dois municípios no Pará tiveram Aquafest. Portel foi um desses dois (veja aqui um vídeo do Youtube sobre o II Aquafest).

Hoje a programação de turismo em Portel não se limita às férias de julho. Além das férias de julho tem o Aquafest em abril e o Festival de Música e Natal Sustentável em dezembro. Sem falar nas festividades religiosas.

Agora Portel tem uma programação para o ano todo. Acabou o Aquafest mas a equipe já tem que pensar as férias de julho.

A OPOSIÇÃO E SEUS ARGUMENTOS CONTRA O TURISMO

É muito fácil dizer que o público de turistas do Aquafest ficou aquém do esperado. Mas a organização de um evento desses exige uma capacidade de planejamento que é valiosíssimo para a prefeitura. Não só o planejamento, mas a realização envolve profissionais da área de sonorização, iluminação, profissionais de imprensa, montagem da estrutura de arquibancada e palcos. Isso pra não falar em carregadores e pessoal de apoio. Esses são profissionais técnicos essenciais para criar em Portel uma economia baseada na realização de eventos.

Contudo, parte população de Portel ainda falha em ver os benefícios trazidos para o município pela realização de eventos. Ainda se fala de forma pejorativa “fazer festa”, em “desperdício de dinheiro” enquanto a prefeitura poderia estar “contratando” para diminuir o desemprego... Disseminando a máxima: é botando apadrinhado político “na folha” da Prefeitura que se acaba o desemprego em Portel...

Essas são falas espalhadas, sobretudo, pela oposição como forma de criar uma insatisfação do público contra os eventos. Mas esses são argumentos falaciosos, enganosos, pois escondem do público os benefícios para o município.

Nas férias de julho, se apenas 400 pessoas forem a Portel, cada uma com R$ 500,00 para gastar, no final do mês, são R$ 800.000,00 deixados pelos visitantes no município.

Não há outra atividade que traga para o município tanto dinheiro em tão curto período. Atrair indústria para criar empregos no município exige muitos recursos e leva tempo até a instalação. Não há outra atividade que garanta renda para tantas famílias em tão pouco tempo. Negligenciar esse potencial turístico de Portel é não só burrice, mas até um ato criminoso.

Agora, a grande razão por que os políticos não gostam de investir em turismo no Marajó, é porque o dinheiro que turista traz não cai diretamente na mão do político. Ele fica na mão do carregador, do motorista de taxi, do dono do hotel ou da pousada, do dono do restaurante, do carrinho de lanche, e assim por diante. Político não gosta quando o dinheiro não cai direto na mão dele.

Claro que poderíamos discutir como formatar as férias de julho, e também os demais eventos do ano, mas falar em acabar com eventos que trazem dinheiro para o município é de um absurdo vergonhoso.

E é bom a população de Portel atentar para isso.

Pois as vozes do atraso já estão se juntando e, em coro, cantam pedindo a volta dos “tempos sombrios”...