domingo, 1 de março de 2015

FRATERNIDADE ÁGAPE DA CRUZ E O DRAMA DA EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS NO MARAJÓ.


Os olhos da criança olham apreensivos um futuro incerto.

Detrás dos muros de uma creche em Portel abrigam-se as vítimas de alguns dos crimes mais hediondos da sociedade, aquelas que mais sofreram, justamente onde esperavam ser mais amadas.

Essas vítimas são crianças, que sofreram abuso e violência nas mãos da própria família. Criada pelas freiras Raimunda Rodrigues e Maria José Iglesias em 2006, a Fraternidade Ágape da Cruz hoje acolhe e serve de lar para mais de 70 crianças, encaminhadas pelo Conselho Tutelar e pela Justiça. Apesar de terem sofrido as piores violências, quando chegamos somos cercados pelos abraços,  sorrisos das crianças, em uma alegria contagiante. Apesar de bem tratadas na creche, as crianças ainda são carentes de carinho e atenção. A Fraternidade Católica Missionária Ágape da Cruz é o refúgio onde elas encontram dignidade, segurança e proteção.

Aqui elas contam com casa-lar, brinquedoteca e escola, e aqui elas encontram, sobretudo, o carinho de que tanto necessitam. Esse cuidado é garantido por voluntários como a dona Socorro, e pelas doações dos moradores locais. 

Os muros da Fraternidade Ágape da Cruz abrigam as vítimas de
alguns dos mais monstruosos crimes da sociedade.


Criada no auge dos escândalos de abuso de menores em Portel, quando reportagens de televisão deram repercussão nacional ao abuso de crianças no município, a creche resultou da necessidade urgente de acolher duas crianças vítimas de abuso sexual. Aquelas primeiras duas crianças acolhidas pelas irmãs Maria José e Raimunda são agora 72 crianças encaminhadas pelo Conselho Tutelar e pela Justiça, vindas até de outros municípios (assista abaixo um vídeo da TV Aparecida sobre o drama da exploração de crianças na Ilha do Marajó e que mostra a Fraternidade Ágape em Portel).

O escândalo teve início em 2006 após dois vereadores terem sido denunciados por exploração de menores, e se ampliou à medida que incluiu também o drama das “meninas balseiras” de Melgaço e do Furo de Breves, dando origem à CPI (comissão parlamentar de inquérito) da exploração sexual contra crianças e adolescentes na Ilha do Marajó. Além da CPI da Assembleia Legislativa, o assunto foi objeto de audiências públicas da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados (O relatório da audiência pode ser lido aqui).

Na época, o fechamento da fábrica da Amacol e a consequente perda de postos de trabalho ocasionaram uma situação de miséria social em que muitos pais de família não tinham nem o essencial para o sustento de suas famílias. A piora das condições econômicas e a desestruturação familiar contribuíram para colocar muitas crianças em situação de risco.

Foi em meio à repercussão do escândalo que a governadora Ana Júlia Carepa e o prefeito Pedro Barbosa inauguraram a creche em 2011, que funciona como um anexo da Escola Municipal Alcides Monteiro, uma forma a justificar assim o aporte de recursos feito por parte da prefeitura. Porém, talvez pelo fato de ser obra da administração anterior, a creche hoje sofre em meio aos entraves burocráticos para assegurar o acolhimento das crianças.


A Prefeitura de Portel paga os salários dos contratados e garante a merenda escolar, mas, no início do ano, o prefeito Paulo Ferreira cortou drasticamente o número de empregados contratados para trabalhar na escola, que teve que reduzir o número de crianças acolhidas. Recentemente, a Câmara de Vereadores votou uma lei para aprovar a doação do terreno à creche, mas não se tem visto nas falas dos vereadores preocupações quanto às condições das crianças na creche. As doações para manter as crianças vêm principalmente de doações feitas pela população, mas as fontes de recursos financeiros têm secado cada vez mais, pondo em perigo o trabalho feito para as crianças.

Mas, se uma parte da sociedade ajuda, outra grande parte ignora o drama das crianças que vivem dentro dos muros da Fraternidade Ágape. É como se elas fossem um estigma de um pecado que a sociedade portelense prefere desconhecer. E depois de passadas as repercussões do escândalo, diminuíram as preocupações com o abuso de menor. De certa forma, se num primeiro momento as denúncias na imprensa ajudaram a chamar a atenção para o problema, por outro lado, elas deixaram a impressão no povo de que a preocupação das autoridades é só quando os agressores são políticos importantes na cidade. Hoje os casos de exploração infantil continuam até mais graves do que antes.
Os passos incertos das crianças mais inocentes,
 mas que sofreram os piores abusos.

A Fraternidade Ágape da Cruz é um retrato tocante da monstruosidade e ao mesmo tempo da bondade humana. De um lado, os atos de monstruosidade contra os seres mais inocentes. Do outro, o amor abnegado e a dedicação daqueles que voluntariamente se dedicam a cuidar delas.

Pela lei, as crianças devem passar no máximo dois anos sob os cuidados da creche. Depois desse período, elas devem ou ser adotas ou retornar para o convívio daqueles em cujas mãos elas sofreram os piores abusos. Esse é o pesadelo que vivem muitas delas, e também de suas protetoras na creche, cujo maior desejo é achar pais adotivos para as crianças sob seus cuidados.

Diante dessa insegurança, as crianças da Fraternidade Ágape da Cruz olham apreensivas para um futuro incerto, enquanto buscam superar um passado, que elas lutam para esquecer.

A Fraternidade Ágape da Cruz e suas crianças precisam de ajuda. Em Portel, o endereço é:

Passagem Nossa Senhora da Luz, s/n,
Bairro da Castanheira.
CEP 68.480-000
Portel – Pará.

Telefones: (91) 98953-6448
                 (91) 98144-9983.

Banco do Brasil
C/c: 14893-8
Agência: 2486-4