sexta-feira, 14 de agosto de 2015

DOIS ENCONTROS, MUITAS TRAIÇÕES


Da esquerda para a direita, Osório Juvenil, Helder Barbalho, José Priante, Paulo Ferreira (de camisa vermelha) e o vereador Preto da Marina, durante inauguração da Escola Professor Afonso Mesquita.
No sábado, dia 8 de agosto, aconteceram dois encontros da maior significância política em Portel.

NO PRIMEIRO,...

Em um átrio pequeno para o número de gente, cercado de fotógrafos, estudantes, professoras e demais autoridades, o prefeito Paulo Ferreira, eleito pelo PP (Partido Progressista) estava acompanhado pelo Ministro da Pesca Helder Barbalho, pelo deputado federal José Priante e pelo deputado estadual Ozório Juvenil, todos do PMDB, na inauguração da Escola Professor Afonso Mesquita. Também presente estava o chefe municipal do PMDB, o ex-vereador Jorge Barbosa. Além dos políticos do PMDB, comparecia à cerimônia de inauguração do ginásio Sebastião Andrade Carneiro o deputado estadual Thiago Araújo, do PPS (Partido Popular Socialista).

A cerimonia foi, sem dúvida, uma demonstração de prestígio político e selou a aliança entre o prefeito e o ex-candidato a governador, aliança essa fechada de forma surpreendente após o primeiro turno da eleição do ano passado, na qual o prefeito apoiou o candidato a governador pelo PSDB, Simão Jatene. Mas, para o segundo turno, mudou de lado, passando a apoiar Helder Barbalho, do PMDB, que havia apoiado, nas eleições a prefeito de Portel em 2012, o candidato concorrente derrotado, Miro Pereira.

Na época, a mudança de lado deu combustível às críticas da oposição, que mais uma vez acusou o prefeito de “traidor”. Antes, a oposição já o havia acusado de ter traído o ex-deputado estadual e ex-prefeito de Breves, Luís Rebelo, que foi patrão de Paulo Ferreira e apoiou sua candidatura à prefeitura de Portel (o apelido do prefeito era “Paulo do Posto”, devido ao posto de gasolina onde trabalhava para Luís Rebelo).

Mas neste segundo sábado de agosto de 2015, o discurso do ministro Helder Barbalho não deixava dúvida sobre a parceria com o prefeito. Também presente à inauguração, o bispo Luíz Azcona cobrou investimentos na pesca e na piscicultura, como forma de diminuição da pobreza no Marajó. O ministro prometeu investimentos na construção do tanque de alevinos, obra que teria sido financiada na administração Pedro Barbosa, mas que nunca foi entregue. No mesmo tom, o deputado federal José Priante reclamou já ter conseguido muita verba para Portel, mas nunca ter visto a conclusão das obras. Agora, ele assegurou a aprovação dos recursos para a reconstrução do muro de arrimo e para a revitalização da orla da praia do Arucará.

Outro grande anúncio da cerimônia foi a notícia de que a Prefeitura de Portel havia sanado suas pendências junto ao CAUC (Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias), resolvendo assim o problema da inadimplência da prefeitura quanto às prestações de conta dos recursos repassados voluntariamente pelo Governo Federal. Esse é outro gesto da maior importância política para o atual prefeito, pois, normalmente, implicaria na denúncia das contas do seu antecessor Pedro Barbosa. Tal ato marcaria o rompimento formal entre o prefeito Paulo Ferreira e aquele que foi o idealizador de sua campanha, o ex-prefeito Pedro Barbosa.

Essa era uma questão que pairava sobre o atual prefeito desde o início do seu mandato. A situação crítica em que encontrou a Prefeitura, quando assumiu o cargo, é do conhecimento de todos. Diante das dívidas herdadas, só podia recorrer ao aumento das receitas próprias, via cobrança de taxas, o que efetivamente foi feito e lhe valeu uma boa dose de impopularidade.

Dependendo apenas dos repasses obrigatórios do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), a prefeitura não tinha capacidade de investimento, pois, devido ao nome sujo na praça, não podia fechar convênios. O jeito então era administrar a penúria.

Mas nenhuma prefeitura pode, no longo prazo, depender apenas do FPM.  Esse é o sentido do Federalismo idealizado no governo Fernando Henrique. Se quiser receber recursos, a prefeitura tem que fechar convênios. Se não prestar conta dos repasses dos convênios, não recebe mais recursos. O objetivo do sistema é justamente que o administrador preste contas, ou denuncie o desvio das verbas.

Desta forma, o prefeito Paulo Ferreira vivia um dilema, ou garantia o mandato e denunciava o antecessor (e padrinho político), arcando assim com o risco de racha na sua base de apoio, ou deixava a população arcar com o prejuízo e protegia o nome do ex-prefeito Pedro Barbosa, comprometendo assim o seu próprio futuro político. Ao que parece agora ele já tomou a decisão. (leia aqui o texto que escrevi sobre o dilema do prefeito Paulo Ferreira em seu primeiro ano de governo)

NO SEGUNDO, ...

O deputado federal Arnaldo Jordy, à esquerda, e o candidato Miro Pereira, à direita (Fonte: internet)


No outro canto da cidade, longe do público, em um pequeno bar, acontecia um outro encontro do maior significado. Lá, o candidato derrotado da última eleição a prefeito, Miro Pereira, se encontrava com Arnaldo Jordy, deputado federal pelo PPS (Partido Popular Socialista). Oficialmente Jordy veio para a mesma cerimônia de inauguração, mas parece que não ficou à vontade ao lado dos Barbalhos,  então deixou no seu lugar o deputado Thiago Araújo, o mais jovem representante do PPS e aliado do prefeito Paulo Ferreira .

Miro Pereira foi vice-presidente estadual do PPS, do qual Jordy é até hoje o presidente no Pará. Foi depois que o então deputado estadual Arnaldo Jordy ganhou destaque na CPI contra a pedofilia em Portel, que ele alçou sua candidatura à Câmara dos Deputados em 2010. Pouco antes, tendo o PPS ganho sua única prefeitura no estado, foi como vice-presidente do partido que Miro Pereira aterrissou em Marituba e abocanhou não uma, não duas, mas três secretarias, e se tornou personagem de um dos mais infames escândalos de corrupção de prefeitura na história do Pará.

E foi de lá de dentro da prefeitura de Marituba que Miro Pereira alçou voo para sua candidatura à prefeitura de Portel, em 2012.

Só que, antes disso, ele resolveu abandonar o PPS, do qual ele era vice-presidente e que lhe havia dado três secretarias em Marituba, e trair o deputado federal Arnaldo Jordy, para ingressar no PMDB de Jáder Barbalho. Mas, havia um outro problema: Miro Pereira não era o favorito do prefeito Pedro Barbosa, então chefe municipal do PMDB, e nem do diretório do partido em Portel. Mas Miro não viu problema nenhum em passar por cima do diretório do partido e impor sua candidatura à prefeitura de Portel. Fato que levou a uma situação inusitada que virou manchete nacional: em uma cidade do Marajó o PMDB concorria às eleições com dois candidatos.

Então Helder Barbalho esteve no palanque em Portel ao lado do candidato Miro Pereira, juntamente com o pai senador e a mãe deputada federal. Essa presença dos chefes do PMDB em seu palanque fundamentava a crença de que o chefe do partido, Jáder Barbalho, iria fazer valer sua vontade na eleição municipal.

E era confiante nesse apoio que Miro cantava nas ruas contra o prefeito Pedro Barbosa: “Eu não queria te bater, mas você me provocou; eu vou te dar uma lambada que o Jáder mandou te bater”...

Quem acabou levando essa lambada foi o candidato impugnado Miro Pereira.

O resultado foi aquele já conhecido, Pedro Barbosa deu o cheque mate no jogo político da eleição em Portel. Após suas jogadas de mestre, a candidatura de Miro Pereira foi impugnada e seu candidato preferido, Paulo Ferreira, levou a vitória.

Essa briga entre o candidato preterido e o então prefeito em exercício gerou mais do que um racha no PMDB municipal, ela gerou uma campanha violenta do candidato Miro Pereira contra o seu ex-aliado e benfeitor, prefeito Pedro Rodrigues Barbosa. Luta essa que chegou a dividir famílias de acordo com as linhas partidárias. Em certo momento, após ter sua candidatura impugnada, Miro Pereira em redes sociais injuriou Pedro Barbosa (pela altura já então afastado pela Câmara), chamando-o de “MONSTRO QUE SÓ PENSAVA EM SI MESMO”.

Mas, eis que agora, num desses encontros e desencontros, dos quais só a política imprevisível de Portel é capaz, os dois ex-inimigos já são vistos juntos, aparando as arestas e confabulando uma possível união da oposição nas eleições do ano que vem.

De um lado, Miro Pereira correndo desesperadamente atrás de apoio para sua candidatura, depois de ter abandonado o PMDB e ter se aninhado sabe-se lá em que legenda, ao mesmo tempo em que tenta desviar a atenção do processo que responde nos tribunais. Do outro, Pedro Barbosa, igualmente respondendo por desvio de verbas durante o seu mandato e ansioso para recuperar o abalado prestígio político. Em comum entre os dois, o histórico de corrupção e desvio de dinheiro público além da imensurável ambição política em Portel. E agora, teriam os dois identificado um inimigo comum?

Em meio a todos esses encontros e desencontros eu me pergunto:

Quem traiu quem?
E onde é que fica Portel, o povo em toda essa história?

E o ex-prefeito Pedro Barbosa, será se o criador vai voltar contra a criatura?