Da esquerda para a direita, Osório Juvenil, Helder Barbalho, José Priante, Paulo Ferreira (de camisa vermelha) e o vereador Preto da Marina, durante inauguração da Escola Professor Afonso Mesquita. |
No sábado, dia 8 de agosto, aconteceram dois encontros da
maior significância política em Portel.
NO PRIMEIRO,...
Em um átrio pequeno para o número de gente, cercado de
fotógrafos, estudantes, professoras e demais autoridades, o prefeito Paulo
Ferreira, eleito pelo PP (Partido Progressista) estava acompanhado pelo
Ministro da Pesca Helder Barbalho, pelo deputado federal José Priante e pelo
deputado estadual Ozório Juvenil, todos do PMDB, na inauguração da Escola
Professor Afonso Mesquita. Também presente estava o chefe municipal do PMDB, o
ex-vereador Jorge Barbosa. Além dos políticos do PMDB, comparecia à cerimônia de
inauguração do ginásio Sebastião Andrade Carneiro o deputado estadual Thiago
Araújo, do PPS (Partido Popular Socialista).
A cerimonia foi, sem dúvida, uma demonstração de prestígio
político e selou a aliança entre o prefeito e o ex-candidato a governador,
aliança essa fechada de forma surpreendente após o primeiro turno da eleição do
ano passado, na qual o prefeito apoiou o candidato a governador pelo PSDB,
Simão Jatene. Mas, para o segundo turno, mudou de lado, passando a apoiar
Helder Barbalho, do PMDB, que havia apoiado, nas eleições a prefeito de Portel
em 2012, o candidato concorrente derrotado, Miro Pereira.
Na época, a mudança de lado deu combustível às críticas da
oposição, que mais uma vez acusou o prefeito de “traidor”. Antes, a oposição já
o havia acusado de ter traído o ex-deputado estadual e ex-prefeito de Breves,
Luís Rebelo, que foi patrão de Paulo Ferreira e apoiou sua candidatura à
prefeitura de Portel (o apelido do prefeito era “Paulo do Posto”, devido ao
posto de gasolina onde trabalhava para Luís Rebelo).
Mas neste segundo sábado de agosto de 2015, o discurso do
ministro Helder Barbalho não deixava dúvida sobre a parceria com o prefeito.
Também presente à inauguração, o bispo Luíz Azcona cobrou investimentos na
pesca e na piscicultura, como forma de diminuição da pobreza no Marajó. O
ministro prometeu investimentos na construção do tanque de alevinos, obra que
teria sido financiada na administração Pedro Barbosa, mas que nunca foi
entregue. No mesmo tom, o deputado federal José Priante reclamou já ter
conseguido muita verba para Portel, mas nunca ter visto a conclusão das obras.
Agora, ele assegurou a aprovação dos recursos para a reconstrução do muro de
arrimo e para a revitalização da orla da praia do Arucará.
Outro grande anúncio da cerimônia foi a notícia de que a
Prefeitura de Portel havia sanado suas pendências junto ao CAUC (Serviço
Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias), resolvendo assim o
problema da inadimplência da prefeitura quanto às prestações de conta dos
recursos repassados voluntariamente pelo Governo Federal. Esse é outro gesto da
maior importância política para o atual prefeito, pois, normalmente, implicaria
na denúncia das contas do seu antecessor Pedro Barbosa. Tal ato marcaria o
rompimento formal entre o prefeito Paulo Ferreira e aquele que foi o idealizador
de sua campanha, o ex-prefeito Pedro Barbosa.
Essa era uma questão que pairava sobre o atual prefeito
desde o início do seu mandato. A situação crítica em que encontrou a Prefeitura,
quando assumiu o cargo, é do conhecimento de todos. Diante das dívidas
herdadas, só podia recorrer ao aumento das receitas próprias, via cobrança de
taxas, o que efetivamente foi feito e lhe valeu uma boa dose de impopularidade.
Dependendo apenas dos repasses obrigatórios do FPM (Fundo de
Participação dos Municípios), a prefeitura não tinha capacidade de
investimento, pois, devido ao nome sujo na praça, não podia fechar convênios. O
jeito então era administrar a penúria.
Mas nenhuma prefeitura pode, no longo prazo, depender apenas
do FPM. Esse é o sentido do Federalismo
idealizado no governo Fernando Henrique. Se quiser receber recursos, a
prefeitura tem que fechar convênios. Se não prestar conta dos repasses dos
convênios, não recebe mais recursos. O objetivo do sistema é justamente que o
administrador preste contas, ou denuncie o desvio das verbas.
Desta forma, o prefeito Paulo Ferreira vivia um dilema, ou
garantia o mandato e denunciava o antecessor (e padrinho político), arcando
assim com o risco de racha na sua base de apoio, ou deixava a população arcar
com o prejuízo e protegia o nome do ex-prefeito Pedro Barbosa, comprometendo
assim o seu próprio futuro político. Ao que parece agora ele já tomou a
decisão. (leia aqui o texto que escrevi sobre o dilema do prefeito Paulo Ferreira em seu primeiro ano de governo)
NO SEGUNDO, ...
O deputado federal Arnaldo Jordy, à esquerda, e o candidato Miro Pereira, à direita (Fonte: internet) |
No outro canto da cidade, longe do público, em um pequeno
bar, acontecia um outro encontro do maior significado. Lá, o candidato
derrotado da última eleição a prefeito, Miro Pereira, se encontrava com Arnaldo
Jordy, deputado federal pelo PPS (Partido Popular Socialista). Oficialmente
Jordy veio para a mesma cerimônia de inauguração, mas parece que não ficou à
vontade ao lado dos Barbalhos, então
deixou no seu lugar o deputado Thiago Araújo, o mais jovem representante do PPS
e aliado do prefeito Paulo Ferreira .
Miro Pereira foi vice-presidente estadual do PPS, do qual
Jordy é até hoje o presidente no Pará. Foi depois que o então deputado estadual
Arnaldo Jordy ganhou destaque na CPI contra a pedofilia em Portel, que ele
alçou sua candidatura à Câmara dos Deputados em 2010. Pouco antes, tendo o PPS
ganho sua única prefeitura no estado, foi como vice-presidente do partido que
Miro Pereira aterrissou em Marituba e abocanhou não uma, não duas, mas três
secretarias, e se tornou personagem de um dos mais infames escândalos de
corrupção de prefeitura na história do Pará.
E foi de lá de dentro da prefeitura de Marituba que Miro
Pereira alçou voo para sua candidatura à prefeitura de Portel, em 2012.
Só que, antes disso, ele resolveu abandonar o PPS, do qual
ele era vice-presidente e que lhe havia dado três secretarias em Marituba, e
trair o deputado federal Arnaldo Jordy, para ingressar no PMDB de Jáder
Barbalho. Mas, havia um outro problema: Miro Pereira não era o favorito do
prefeito Pedro Barbosa, então chefe municipal do PMDB, e nem do diretório do
partido em Portel. Mas Miro não viu problema nenhum em passar por cima do
diretório do partido e impor sua candidatura à prefeitura de Portel. Fato que levou
a uma situação inusitada que virou manchete nacional: em uma cidade do Marajó o
PMDB concorria às eleições com dois candidatos.
Então Helder Barbalho esteve no palanque em Portel ao lado
do candidato Miro Pereira, juntamente com o pai senador e a mãe deputada federal.
Essa presença dos chefes do PMDB em seu palanque fundamentava a crença de que o
chefe do partido, Jáder Barbalho, iria fazer valer sua vontade na eleição
municipal.
E era confiante nesse apoio que Miro cantava nas ruas contra
o prefeito Pedro Barbosa: “Eu não queria te bater, mas você me provocou; eu vou
te dar uma lambada que o Jáder mandou te bater”...
Quem acabou levando essa lambada foi o candidato impugnado
Miro Pereira.
O resultado foi aquele já conhecido, Pedro Barbosa deu o
cheque mate no jogo político da eleição em Portel. Após suas jogadas de mestre,
a candidatura de Miro Pereira foi impugnada e seu candidato preferido, Paulo
Ferreira, levou a vitória.
Essa briga entre o candidato preterido e o então prefeito em
exercício gerou mais do que um racha no PMDB municipal, ela gerou uma campanha
violenta do candidato Miro Pereira contra o seu ex-aliado e benfeitor, prefeito
Pedro Rodrigues Barbosa. Luta essa que chegou a dividir famílias de acordo com
as linhas partidárias. Em certo momento, após ter sua candidatura impugnada,
Miro Pereira em redes sociais injuriou Pedro Barbosa (pela altura já então
afastado pela Câmara), chamando-o de “MONSTRO QUE SÓ PENSAVA EM SI MESMO”.
Mas, eis que agora, num desses encontros e desencontros, dos
quais só a política imprevisível de Portel é capaz, os dois ex-inimigos já são
vistos juntos, aparando as arestas e confabulando uma possível união da
oposição nas eleições do ano que vem.
De um lado, Miro Pereira correndo desesperadamente atrás de
apoio para sua candidatura, depois de ter abandonado o PMDB e ter se aninhado sabe-se
lá em que legenda, ao mesmo tempo em que tenta desviar a atenção do processo
que responde nos tribunais. Do outro, Pedro Barbosa, igualmente respondendo por
desvio de verbas durante o seu mandato e ansioso para recuperar o abalado
prestígio político. Em comum entre os dois, o histórico de corrupção e desvio
de dinheiro público além da imensurável ambição política em Portel. E agora,
teriam os dois identificado um inimigo comum?
Em meio a todos esses encontros e desencontros eu me
pergunto:
Quem traiu quem?
E onde é que fica Portel, o povo em toda essa história?
E o ex-prefeito Pedro Barbosa, será se o criador vai voltar
contra a criatura?