quarta-feira, 8 de julho de 2015

POR QUE O FUTURO DO MUNICÍPIO DE PORTEL IMPORTA, UM BREVE RESUMO HISTÓRICO


Antigo porto de Portel, no final da década de 1950.
Portel é apenas um dos 450 municípios compreendidos na Região Norte do Brasil, que cobre a maior parte da Floresta Amazônica brasileira. Neste momento você deve estar se perguntando: e o que o município de Portel tem de especial?

Bem, há várias respostas para essa pergunta.

Aqui eu vou relatar resumidamente sobre a história de Portel.

A história do município de Portel tem suas origens em meados do século XVII no movimento da Contra Reforma, quando a Companhia de Jesus criou no local um aldeamento de índios Nheengaíbas vindos da Ilha do Marajó. O eminente jesuíta português Antônio Vieira foi quem fundou a aldeia, então chamada de Arucará pelos padres da Companhia de Jesus.

Após a expulsão dos jesuítas em 1759, promovida pela política do “despotismo esclarecido” do marquês de Pombal, a aldeia do Arucará foi promovida a vila e recebeu o nome de uma cidade portuguesa, Portel. Semelhante ao que ocorreu nas demais cidades amazônicas após a grande expulsão jesuíta, Portel entrou em longo ciclo de decadência, chegando a vila a ser extinta em 1833, quando foi incorporada ao município vizinho de Melgaço durante dois anos.

O ressurgimento econômico da vila só viria no final do século XIX, durante o ciclo da borracha, período no qual diversas famílias oriundas do Nordeste do Brasil migraram para o município, fixando-se no interior para trabalhar no extrativismo da seringa, cera de maçaranduba, castanha-do-pará, entre outros produtos além da agricultura de subsistência.

No pós-guerra, a madeira foi o produto que garantiu a inserção do município no capitalismo mundial. Assim, a grande arrancada de crescimento do município se deu com a instalação de uma fábrica de compensados no final dos anos 1950 por um empresário norte-americano. A fábrica se chamava Companhia Amazonas e sua construção atraiu para o local muitos trabalhadores de outras localidades, e até de outros países. No final da década de 1960, a companhia foi vendida para a transnacional norte-americana Georgia Pacific e seu nome mudou para Amacol.

Além da Amacol, várias serrarias de grande porte, tal como a japonesa Eidai, também estavam localizadas no município de Portel. Foi então o apogeu do ciclo madeireiro, no início dos anos 1980. Nessa época, a cidade era uma das poucas cidades amazônicas cuja força de trabalho era composta principalmente por um operariado urbano.

No entanto, no final dos anos 1990, houve a decadência do ciclo da madeira, a fábrica de compensados da Amacol fechou as portas e as propriedades da empresa foram vendidas pela Georgia Pacific para um grupo da Malásia, permanecendo em funcionamento no local apenas uma serraria.

O fim definitivo do ciclo madeireiro veio em 2008, quando a área do que sobrou da madeireira Amacol foi invadida e depredada. Houve então um grande êxodo populacional de Portel para outros municípios, principalmente para Macapá, capital do estado vizinho do Amapá. Hoje em dia, pouquíssimas serrarias ainda estão localizadas no município, o padrão de vida da população decaiu e a pobreza aumentou consideravelmente. Desta forma, a cidade também vivencia o fenômeno mundial da desindustrialização, à medida que seus moradores passaram a depender cada vez mais de empregos públicos e transferências do Governo Federal.

Atualmente, o povo de Portel luta para reencontrar uma nova vocação na agricultura, e sonha em escapar do seu isolamento, esperando ver finalmente a construção da estrada, que conectaria a cidade por via rodoviária com o restante do país.

Nesse sentido, o destino de Portel pode trazer muitas lições para inúmeras cidades na Amazônia, que também passam pelo mesmo ciclo. E essa nova vocação econômica, o caminho que o povo de Portel escolher, será determinante para o futuro da Floresta Amazônica.