Gerusa Balieiro desfila para os jurados |
Neste último sábado, dia 29 de julho, a prefeitura realizou
a 29ª edição do tradicional Baile da Musa Verão. A cidade padece com os atrasos frequentes no
pagamento dos salários do funcionalismo público, e com o atendimento pela
agência do Banco do Brasil, a principal das duas únicas agências de banco num
município, onde o acesso da internet é restrito e precário. Não basta a
prefeitura atrasar os salários, quando paga, muitas vezes a agência do Banco do
Brasil não tem dinheiro, ou não se encontra aberta em horário adequado para
atender o público. A situação se agravou tanto que alguns comerciantes procuram
realizar uma audiência com a presença do Ministério Público para resolver o
problema. Mas essa tentativa até agora não logrou atrair interesse da
população, ou do prefeito.
No entanto, nenhum desses fatos, ainda que da maior importância, merece tamanha atenção como a escolha da musa do verão portelense.
A prefeitura, disposta a transformar a coroação da musa no
auge da programação das férias de julho, investiu na realização do baile. Em
vez da motoneta Honda Biz dos anos anteriores, este ano a prefeitura comprou
para a vencedora uma moto cross Honda NXR 160 cc Bros nova. Moto que custa mais
de R$ 11.000,00, prêmio esse que é o sonho de qualquer garota da cidade. Deste
modo, o baile da Musa Verão 2017 deveria coroar a programação de férias de uma
administração até agora sem brilho, sem realizações e sem inaugurações entregar
para a população.
Desta vez, a festa voltou a ser realizada na sede do
tradicional clube de futebol Camel, local onde era originalmente realizado o
baile há mais de vinte anos atrás. No ano, o baile ocorreu no estádio Felizardo
Diniz, este bem mais amplo e com maior público, mas sem as características de
um grande baile. No ano passado o local escolhido foi a arena fechada em frente
à praia, que tantas críticas gerou ao então prefeito por parte da oposição, que
o acusava de “privatizar” a praia. Com a volta do baile ao seu antigo local de
origem, era minha esperança que o baile voltasse a ter o glamour de
antigamente. No entanto, se no passado a festa guardava um certo glamour, com a
sede social ricamente decorada pelo José Maranhão, e o público elegantemente
vestido a caráter para a ocasião, no melhor do traje social, desta vez a sede
não tinha nada de decoração para a festa, e o público já não se traja mais com
a elegância de duas décadas atrás.
De decoração feita pela SECELT (Secretaria de Cultura,
Esporte, Lazer e Turismo) mesmo, apenas um enorme palco de quase dois metros de
altura, que serviu só para dificultar a visão do desfile e afastar ainda mais
as candidatas do público. No passado elas desfilavam no salão de danças, em
meio ao público, não precisava de palco especialmente construído para a
ocasião. Só pela construção do palco a prefeitura teria pagado uma pequena
fortuna, sendo que o palco serviu apenas para o desfile das candidatas, o show
das bandas aconteceu no próprio palco do clube. Presentes à festa estavam, além
do secretário da SECELT, o vice-prefeito, o próprio prefeito, e o convidado
especial, o deputado comunista Lélio Costa. A expectativa da premiação era
grande.
Durante as semanas que antecederam à festa, o novo prêmio
para a vencedora do concurso atiçou a imaginação da população. Segundo os
boatos, o novo prêmio já teria uma vencedora certa: a suposta candidata-amante
de um comerciante ocupante de um cargo de alto escalão na prefeitura. Nas redes
sociais, perfis falsos espalharam que o resultado do concurso já estaria
decidido. A festa seria apenas uma encenação para a entrega de presentes a
amantes, pagos com o dinheiro público. Em uma cidade em que os boatos surgem a
cada esquina, e ainda mais em uma administração marcada por escândalos e
fofocas, os rumores rapidamente ganham ares de verdade.
O suposto descaramento da intenção logo causou indignação e ciúmes.
As meninas jogadoras da seleção de vôlei do município, que recentemente
trouxeram um troféu para casa, mas que receberam uma premiação muito aquém
daquela oferecida à musa, logo reclamaram a desvalorização do esporte. Para o
povo estava claro, para a prefeitura mais vale a mulher mostrar o corpo.
Para aumentar ainda mais as suspeitas, desta vez a SECELT
preparou uma sessão de fotos para apresentar as candidatas ao público. Ótima a
ideia no princípio, o resultado foi que o ensaio fotográfico foi francamente
desfavorável algumas candidatas, enquanto pareceu favorecer umas outras. As
candidatas foram fotografadas sob sol a pino, e algumas a uma certa distância,
erros primários até para um fotógrafo iniciante. Além do mais, as fotos,
desfavoráveis a algumas candidatas,
serviram só de munição para que alguns mal intencionados fizessem zombaria e chacota das garotas em redes
sociais, numa clara demonstração de falta de respeito ao espírito do concurso.
Questionados eram os critérios de escolha das candidatas, quando não a própria
falta de seriedade do concurso.
As candidatas desfilam diante dos jurados. |
Tais questionamentos não são novos. No ano passado ocorreram
após a escolha do Garoto Verão. Mas agora, dada a propaganda e a preparação
feita pela prefeitura, a polêmica foi crescendo até o dia do baile. De modo
que, no grande momento, todos estavam preparados. A sede social do Camel em si,
embora não estivesse completamente lotada para a festa, encontrava-se
fervilhando. Alguns amigos e parentes, para torcer para suas candidatas,
trouxeram faixas e cartazes, formando uma verdadeira torcida organizada. E a
maioria, se não torcia por uma candidata específica, estava francamente
contrária a uma candidata, a suposta amante do alto funcionário da
prefeitura. E não somente torcia contra
ela, mas estava preparada para acabar com a festa, caso o boato se tornasse
realidade.
Anunciados o terceiro e segundo lugar, a expectativa era
grande para o anúncio da vencedora. Segundos antes do grande anúncio, como uma
artilharia em guerra, pronta para o ataque, ouvia-se os alertas, “preparar as
latinhas de cerveja” e “os baldes de gelo estão prontos”... Na hora, o anúncio
de que Tássia Paes era a vencedora veio como um alívio e um anticlímax para a
turma que veio pronta para estragar a festa.
Tássia Paes é coroada Musa Verão 2017. |
Gerusa Balieiro não poderia ser musa, não seria musa. Muito embora tivesse os atributos estéticos, não tinha a simpatia do público. Os boatos espalhados nas redes sociais minaram seu apoio junto ao público. Se
vencesse, ganharia a moto mas viveria uma grande vergonha, senão agressão
pública.
Durante as semanas, perfis falsos nas redes sociais
espalharam o boato de que ela seria amante de um figurão de alto escalão na
prefeitura, e que o concurso já estaria todo armado para que ela ganhasse o
prêmio. A politização do concurso da Musa Verão fez com que o desfile se
tornasse mais do que uma escolha da beleza. As suspeitas lançadas sobre a
administração municipal recaíam sobre ela mesma. Perfis falsos e boatos
espalhados por pessoas que se dizem de bem acabam com uma reputação e podem
estragar um momento que deveria ser dos mais lindos.
Depois que todos respiraram aliviados, o vice-prefeito
Evandro, o prefeito Manoel Maranhense e o deputado Lélio Costa puderam
discursar calmamente para uma plateia que, se não aplaudiu, também não deu em
ninguém um banho de cerveja e de baldes de gelo.
Terminado o mês de julho, passadas as férias, a população
volta à sua mesma preocupação: se o salário pago pela prefeitura não vai
atrasar, se a agência do Banco do Brasil não vai fechar, se os caixas vão ter
dinheiro... Mas nada, nada gera tanta atenção do cidadão portelense como a
escolha da Musa Verão.
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