quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O BAILE DA MUSA VERÃO 2017

Gerusa Balieiro desfila para os jurados

Neste último sábado, dia 29 de julho, a prefeitura realizou a 29ª edição do tradicional Baile da Musa Verão.  A cidade padece com os atrasos frequentes no pagamento dos salários do funcionalismo público, e com o atendimento pela agência do Banco do Brasil, a principal das duas únicas agências de banco num município, onde o acesso da internet é restrito e precário. Não basta a prefeitura atrasar os salários, quando paga, muitas vezes a agência do Banco do Brasil não tem dinheiro, ou não se encontra aberta em horário adequado para atender o público. A situação se agravou tanto que alguns comerciantes procuram realizar uma audiência com a presença do Ministério Público para resolver o problema. Mas essa tentativa até agora não logrou atrair interesse da população, ou do prefeito.

No entanto, nenhum desses fatos, ainda que da maior importância, merece tamanha atenção como a escolha da musa do verão portelense.

A prefeitura, disposta a transformar a coroação da musa no auge da programação das férias de julho, investiu na realização do baile. Em vez da motoneta Honda Biz dos anos anteriores, este ano a prefeitura comprou para a vencedora uma moto cross Honda NXR 160 cc Bros nova. Moto que custa mais de R$ 11.000,00, prêmio esse que é o sonho de qualquer garota da cidade. Deste modo, o baile da Musa Verão 2017 deveria coroar a programação de férias de uma administração até agora sem brilho, sem realizações e sem inaugurações entregar para a população.

Desta vez, a festa voltou a ser realizada na sede do tradicional clube de futebol Camel, local onde era originalmente realizado o baile há mais de vinte anos atrás. No ano, o baile ocorreu no estádio Felizardo Diniz, este bem mais amplo e com maior público, mas sem as características de um grande baile. No ano passado o local escolhido foi a arena fechada em frente à praia, que tantas críticas gerou ao então prefeito por parte da oposição, que o acusava de “privatizar” a praia. Com a volta do baile ao seu antigo local de origem, era minha esperança que o baile voltasse a ter o glamour de antigamente. No entanto, se no passado a festa guardava um certo glamour, com a sede social ricamente decorada pelo José Maranhão, e o público elegantemente vestido a caráter para a ocasião, no melhor do traje social, desta vez a sede não tinha nada de decoração para a festa, e o público já não se traja mais com a elegância de duas décadas atrás.

De decoração feita pela SECELT (Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo) mesmo, apenas um enorme palco de quase dois metros de altura, que serviu só para dificultar a visão do desfile e afastar ainda mais as candidatas do público. No passado elas desfilavam no salão de danças, em meio ao público, não precisava de palco especialmente construído para a ocasião. Só pela construção do palco a prefeitura teria pagado uma pequena fortuna, sendo que o palco serviu apenas para o desfile das candidatas, o show das bandas aconteceu no próprio palco do clube. Presentes à festa estavam, além do secretário da SECELT, o vice-prefeito, o próprio prefeito, e o convidado especial, o deputado comunista Lélio Costa. A expectativa da premiação era grande.

Durante as semanas que antecederam à festa, o novo prêmio para a vencedora do concurso atiçou a imaginação da população. Segundo os boatos, o novo prêmio já teria uma vencedora certa: a suposta candidata-amante de um comerciante ocupante de um cargo de alto escalão na prefeitura. Nas redes sociais, perfis falsos espalharam que o resultado do concurso já estaria decidido. A festa seria apenas uma encenação para a entrega de presentes a amantes, pagos com o dinheiro público. Em uma cidade em que os boatos surgem a cada esquina, e ainda mais em uma administração marcada por escândalos e fofocas, os rumores rapidamente ganham ares de verdade.

O suposto descaramento da intenção logo causou indignação e ciúmes. As meninas jogadoras da seleção de vôlei do município, que recentemente trouxeram um troféu para casa, mas que receberam uma premiação muito aquém daquela oferecida à musa, logo reclamaram a desvalorização do esporte. Para o povo estava claro, para a prefeitura mais vale a mulher mostrar o corpo.

Para aumentar ainda mais as suspeitas, desta vez a SECELT preparou uma sessão de fotos para apresentar as candidatas ao público. Ótima a ideia no princípio, o resultado foi que o ensaio fotográfico foi francamente desfavorável algumas candidatas, enquanto pareceu favorecer umas outras. As candidatas foram fotografadas sob sol a pino, e algumas a uma certa distância, erros primários até para um fotógrafo iniciante. Além do mais, as fotos, desfavoráveis a algumas candidatas,  serviram só de munição para que alguns mal intencionados fizessem  zombaria e chacota das garotas em redes sociais, numa clara demonstração de falta de respeito ao espírito do concurso. Questionados eram os critérios de escolha das candidatas, quando não a própria falta de seriedade do concurso.

As candidatas desfilam diante dos jurados.

Tais questionamentos não são novos. No ano passado ocorreram após a escolha do Garoto Verão. Mas agora, dada a propaganda e a preparação feita pela prefeitura, a polêmica foi crescendo até o dia do baile. De modo que, no grande momento, todos estavam preparados. A sede social do Camel em si, embora não estivesse completamente lotada para a festa, encontrava-se fervilhando. Alguns amigos e parentes, para torcer para suas candidatas, trouxeram faixas e cartazes, formando uma verdadeira torcida organizada. E a maioria, se não torcia por uma candidata específica, estava francamente contrária a uma candidata, a suposta amante do alto funcionário da prefeitura.  E não somente torcia contra ela, mas estava preparada para acabar com a festa, caso o boato se tornasse realidade.

Anunciados o terceiro e segundo lugar, a expectativa era grande para o anúncio da vencedora. Segundos antes do grande anúncio, como uma artilharia em guerra, pronta para o ataque, ouvia-se os alertas, “preparar as latinhas de cerveja” e “os baldes de gelo estão prontos”... Na hora, o anúncio de que Tássia Paes era a vencedora veio como um alívio e um anticlímax para a turma que veio pronta para estragar a festa.
Tássia Paes é coroada Musa Verão 2017.
Gerusa Balieiro não poderia ser musa, não seria musa. Muito embora tivesse os atributos estéticos, não tinha a simpatia do público. Os boatos espalhados nas redes sociais minaram seu apoio junto ao público. Se vencesse, ganharia a moto mas viveria uma grande vergonha, senão agressão pública.

Durante as semanas, perfis falsos nas redes sociais espalharam o boato de que ela seria amante de um figurão de alto escalão na prefeitura, e que o concurso já estaria todo armado para que ela ganhasse o prêmio. A politização do concurso da Musa Verão fez com que o desfile se tornasse mais do que uma escolha da beleza. As suspeitas lançadas sobre a administração municipal recaíam sobre ela mesma. Perfis falsos e boatos espalhados por pessoas que se dizem de bem acabam com uma reputação e podem estragar um momento que deveria ser dos mais lindos.

Depois que todos respiraram aliviados, o vice-prefeito Evandro, o prefeito Manoel Maranhense e o deputado Lélio Costa puderam discursar calmamente para uma plateia que, se não aplaudiu, também não deu em ninguém um banho de cerveja e de baldes de gelo.


Terminado o mês de julho, passadas as férias, a população volta à sua mesma preocupação: se o salário pago pela prefeitura não vai atrasar, se a agência do Banco do Brasil não vai fechar, se os caixas vão ter dinheiro... Mas nada, nada gera tanta atenção do cidadão portelense como a escolha da Musa Verão.

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